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O ovo ou a galinha, eis a questão: assim o debate sobre arbitragem segue a polarizar mentes e corações

A conversa com Daniel Xavier e os irmãos Friedlander (Fernando e Vavá) foi franca e, talvez, promissora. Dela, pode ter sido formado o embrião para uma nova era na Série Ouro. Tem ligação direta com o assunto que a maioria dos jogadores adora se escorar quando o insucesso triunfa: o (deixe aqui seu adjetivo predileto, como “ruim”, “bom”, “péssimo”, “de qualidade” etc.) nível da arbitragem no Chuteira de Ouro.

O Juvena de Daniel Xavier e dos irmãos Friedlander quer criar uma frente que outrora já foi proposta nos tempos do CAV de Caio Fleischmann, mas que jamais passou de devaneio aliado, algumas vezes, a frustradas tentativas de orientar a competição. Uma comissão dos principais times da divisão dourada, que dialogue diretamente com a organização, que tenha participação nas decisões do produto final (a divisão em si, claro). A ideia seria pagar uma taxa a mais na inscrição para trazer "arbitragem de alto nível". 

Viva a maturidade para quem desconfiou da sugestão. Seria mesmo o dinheiro o/a (grande) problema/solução quando tratamos de homo sapiens lidando com questões burocráticas que eles mesmos (pro)criam? 

A construção sócia-econômica na mente de cada indivíduo molda a teia criada por homens durante décadas. Para o chuteirense médio, o problema pode estar na “economia” na escala da arbitragem: “qualquer um pode apitar”, de acordo com muita gente saída de quadra (geralmente derrotada). O que Lucas P. e Douglas Almasi já escutaram ao longo de suas carreiras não ocuparia muitas páginas de seus currículos. Seria, inclusive, do tamanho do conteúdo escrito por Jack Torrance na versão cinematográfica de Stanley Kubrick de O Iluminado. Porém, as poucas frases para se referir a quem apita - tal qual o filme - são as mesmas de sempre: enviesadas de preconceitos e pura ignorância - com pitadas de individualismo e conservadorismo.

O dinheiro. A desgraça da raça humana é colocada acima de qualquer suspeita nos debates genéricos. Falando então de futebol chuteirense, mais ainda. A LCOF7 é um “campeonato de playboys” de acordo com o imaginário popular. Quem tem grana normalmente se posiciona na sociedade de maneira mais confiante pensando assim. Usa esse artifício para desestabilizar emocionalmente um adversário. Uma pobreza de espírito sem tamanho. 

O consenso faz uma construção enraizada na intolerância. A pobreza é ligada à falta de estudos de acordo com o imediatismo e egoísmo. É ligada a uma suposta falta de preocupação da parte da arbitragem para com o jogo e o indivíduo. “Ele vem pegar o dinheiro e não dá a mínima para a partida” já escutei incontáveis vezes, num festival de arrogância e prepotência sem precedentes quando o assunto é levado ao campo social. De acordo com o pensamento tacanho, a arbitragem que ganha mais bufunfa, se dedicará a valer: “não vai assaltar meu time”. 

Bem, a carcaça cansa quando as gerações repetem os mesmos discursos. Daniel Xavier confidenciou que alguns jogadores que fazem parte da família Juvena não querem jogar o Chuteira por acharem a arbitragem fraca. Estão no direito deles. Apenas questiono-o, assim como fiz diretamente a um jovem jogador do Vila Míssel neste semestre, e para outro jovial atuante do Gbex no semestre passado, se existem arbitragens exemplares espalhadas por São Paulo, Brasil e mundo. Se, em outros lugares, a perfeição não é apenas uma quimera quando o assunto é quem apita.

Não é sobre isentar arbitragem. Tem jogo que a juizada conduz mal o espetáculo mesmo. Sei disso quando os dois lados chiam a respeito da conduta arbitral. Nas oitavas de final da Ouro 34 (09\novembro), tanto o vencedor Fúria ZB quanto o perdedor Roleta Russa saíram disparando labaredas de fogo sobre a performance de quem mediava a disputa. Aqui, sim, é importante pararmos e analisarmos se foi algo pontual ou típico. Porque a arbitragem a não servir à Série Ouro pode perfeitamente ser elogiada na Série Bronze, e vice-versa. Todo sábado, um(a) árbitro(a) vai do céu ao inferno nos julgamentos chuteirísticos. 

A ideia de Daniel Xavier de pagar uma taxa-extra para trazer “arbitragem mais qualificada” baseia-se no suposto senso de justiça do ser humano. Bem, se “o campeonato é caro pra caralho”, de acordo com muita gente que ouço por aí, como acreditar que se pagaria um pouco mais para “trazer juizada melhor”, assim, numa boa? 

Parte-se então para o orçamento girado. Pagar melhores arbitragens sem aumentar o preço da inscrição do campeonato. Tchau, jornalismo de qualidade - porque eu considero a equipe de trabalho satisfatória, vide o que vocês jogadores produzem aos sábados. Só que boas reportagens custam dinheiro também. Então, a faca passa a ser tridimensional em gumes. A organização também precisa receber pelo esforço de colocar em ordem, aproximadamente, cem equipes atuando, simultaneamente por, pelo menos, nove sábados. Sabe aquela inscrição que você “acha cara”? Pois é, ainda tem aluguel de quadras…

A conta nunca fechará. Mesmo que se adote a taxa-extra. Alguém sempre estará insatisfeito. Arbitragem boa será aquela que tiver a colaboração dos jogadores no andar do jogo. Se o chuteirense está disposto a criar um clima estranho, pode vir quem você considera fora de série no apito: essa pessoa - algo que está se tornando comum, infelizmente - corre o risco de ter seu nome exposto em mídia social de forma negativa e pejorativa tanto quanto quem é “pobre, e que vem apenas pegar o dinheiro e ponto”. Porque quem usa um canhão do tamanho dos algoritmos de forma imprudente, está provavelmente se lixando que, apitar partidas amadoras, é parte de sustento familiar. 
 
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