Preciso começar esta matéria com uma confissão. Quando acabou o primeiro tempo de Vila Míssel e Madureira, este repórter preparou uma previsão sombria do experiente time grená. Algo como: “se continuar assim, vai ser difícil se classificar ou mesmo se manter na Prata”. Mas jornalista não entende nada de bola mesmo. Depois do intervalo, a equipe virou a chave, rasgou o prognóstico e conquistou grande virada por 2 x 1! Tudo graças a um desempenho de manual na etapa final, que garantiu os primeiros três pontos na competição.
Em minha defesa, vou dizer que o VM dominou as ações os primeiros movimentos. Aos 2 minutos, Cazita cruzou pela direita, Miranda alcançou por pouco, já dividindo com o goleiro, e a defesa afastou. Não demorou muito para nova chance surgir – desta vez, mortal. Vini dominou na intermediária e abriu na direita para Mané, que não perdeu tempo e emendou um balaço no cantinho. Lattes chegou a tocar na bola, mas não o bastante para impedir sua trajetória rumo às redes! 1 x 0!
Mesmo sem ser brilhante, o time laranja merecia a vitória parcial, pois ao menos sabia o que fazer em quadra. Já o Madureira – em que pese as sentidas ausências de Mogi, Math, Peu e outros – não tinha ideias nem para manter a bola no ataque, quanto mais criar situações de gol. O jeito foi tentar de longe. Andrade arriscou do campo de defesa e Alba desviou dentro da área, mas mandou por cima. E, depois de minutos sem emoção, Andrade voltou a tentar de longe. Desta vez, Macarrão encaixou com facilidade. Lance simbólico da dificuldade de sua equipe a essa altura.
Já no final do primeiro tempo, o Vila Míssel recuperou o ímpeto ofensivo. Em boa trama pela direita, a bola chegou a Chacon do lado direito. Sua finalização saiu venenosa e passou perto do ângulo esquerdo! Pouco depois, o mesmo Chacon cobrou falta de longe buscando o cantinho direito e Lattes caiu para espalmar. Teve mais: Cazita ficou com sobra, ajeitou e bateu firme de direita. A redonda pegou na trave esquerda e passou, charmosa, em frente à meta até a defesa tirá-la!
E do outro lado? Gordoy recebeu lançamento com espaço na ponta esquerda, mas errou na hora de cruzar e caiu sozinho. Dá nele, bola! Mas, para ser justo, Gordoy acertou ao abrir para Julius na direita, e este finalizou firme, mas Macarrão pegou e não soltou. Antes do intervalo, nova chance do Vila Míssel. Em contra-ataque veloz, Chacon abriu para Cazita, que invadiu a área em diagonal, ficou frente a frente com Lattes e concluiu por cima!
Até então, a desvantagem mínima saía barato para o Madureira, de tal forma que não se podia prever a mudança que ocorreu quando a bola voltou a rolar. Com poucos segundos (sim, segundos!), a equipe grená pressionou a saída de bola do rival e Alba ficou com a posse. Ele serviu Diga, que dominou fora da área, ajeitou para a canhota e mandou no cantinho esquerdo! 1 x 1!
Como a estratégia de subir as linhas funcionou, a experiente esquadra dobrou a aposta e seguiu em cima. Mas foi numa cobrança de lateral que a virada aconteceu. Cyro lançou de longe para encontrar Alba no pagode. A zaga não subiu e apenas assistiu o camisa 9 cabecear e estufar as redes! Virada relâmpago e improvável! 2 x 1! Mas teve mais: Gordoy ficou com a bola pela esquerda e acionou Cyro, que chutou com desvio. Macarrão precisou se esticar para desviar com a ponta dos dedos!
Agora em desvantagem, o Vila Míssel ensaiou a pressão. Em contra-ataque, a bola chegou até Vini dentro da área e parou em defesa incrível de Lattes, que ainda conseguiu se recuperar para pegar a finalização de Mané no rebote! Na sequência, o mesmo Mané arrancou pela ponta direita, saiu da marcação e encheu o pé. O goleirão grená apareceu para salvar de novo!
Depois de tanto trabalhar, Lattes foi ao chão, aparentemente sentindo dores nas costas. Para os jogadores e torcedores adversários, parecia cera, tinha cheiro de cera e soava como cera. Mas não era cera. O atendimento médico chegou, prestou os primeiros socorros e precisou retirar o guarda-redes de quadra.
Enquanto era literalmente arrastado até o canto, Lattes viu o companheiro Alba vestir o colete de número 20 e assumir seu lugar na meta madureirense, afinal não havia goleiro reserva. Ao todo, levou cerca de 7 minutos para a partida reiniciar. Na volta, os laranjas mostraram pressa para aproveitar a vantagem de enfrentar um jogador de linha debaixo das traves. Logo de cara, Gui completou cruzamento com finalização de primeira, mas Alba conseguiu espalmar para cima!
Entrou em cena, mais do que nunca, a dedicada zaga do Madureira. Andrade, Tico e Gordoy eram os nomes mais destacados de um sistema defensivo que precisou se desdobrar – e que por uns minutos efetivamente conseguiu afastar o perigo. Só aos 20 minutos o sufoco voltou. Um balãozinho para dentro da área encontrou Miranda, que esperou a bola cair e, na hora de se consagrar, mandou por cima!
Ainda que preocupado em se defender, o time preferido de Arlindo Cruz criou oportunidades para assegurar a vitória. Gordoy pegou sobra de uma confusão na área e obrigou Macarrão a espalmar para escanteio. Na cobrança de Diga, a defesa afastou mal, Barrucho aproveitou e chutou por cima do travessão. Pouco depois, Gordoy fez desarme e acelerou para Julius, que bateu de chapa na saída de Macarrão e errou o alvo! Aí não pode!
Para compensar o tempo de atendimento a Lattes, o segundo tempo passou dos 30 minutos, dando mais corda ao drama. E que drama! Miranda chegou pelo meio e, mesmo marcado por dois, arrumou espaço para a conclusão, mas Alba defendeu sem dificuldades. A próxima ofensiva seria muito mais perigosa. Mané arriscou da intermediária buscando o ângulo direito e o goleiro improvisado mostrou grande reflexo para espalmar!
O apito final decretou o triunfo inesperado e merecido do Madureira. Valeu toda a comemoração, pois a equipe conseguiu superar suas limitações, desfalques e o imponderável para levar os três pontos. O futuro pode ser positivo! Ainda que o próximo adversário seja o invicto Colônia 355.
Já o Vila Míssel deixou a quadra de cabeça quente, com a sensação de ter perdido uma chance preciosa de vencer na Prata pela primeira vez. O jeito será correr atrás do prejuízo diante do La Barca. Mas vale lembrar que, assim como o adversário, o VM também esteve longe de contar com força máxima e sentiu falta de Saretta e outros jogadores.
Fica o aviso para ambas as equipes: sem um banco recheado e homogêneo, fica difícil ir longe em certame tão equilibrado. E sem esquecer de um goleiro reserva – teve time que perdeu semifinal no semestre passado por não ter um!
Ficha técnica
Madureira 2 x 1 Vila Míssel – 2ª rodada do Grupo B do XXVIII Chuteira de Prata
Comentários (0)