Se não há sofrimento, não é Primatas. A máxima foi comprovada no último sábado, durante a terceira das quartas de final do Chuteira de Ouro. Naquele que era considerado “o jogo mais aberto da fase”, os símios pegaram o Futsamba, que vinha de campanha melhor na primeira fase.
 
Muito parelho, o 1 x 1 resistiu ao famigerado gol de ouro e a vaga foi decidida na marca do cal. Brecha para que o roteiro perfeito de classificação nos pênaltis se tornasse realidade: na última cobrança, Foguinho defendeu batida de Torcas e garantiu o Primatas nas semifinais do Chuteira.
 
No início já se percebia que a atmosfera da partida era diferente. Quase completo, o Futsamba tirava fotos posadas com pompa e circunstância diante da faixa gigante levada pelos fãs. Com alguns desfalques importantes, como Prior, suspenso, o Primatas entrou na partida após o já tradicional grito de guerra que conclama os jogadores à guerra.
 
Com a bola rolando, um início lento. Foram quatro minutos até que Zé criasse a primeira chance – defesa de Foguinho após passe de calcanhar de Torcas – e cinco para que o camisa 10 marcasse o primeiro dos dois gols da partida. O chute veio de longe, Foguinho espalmou e a bola sobrou para Zé, oportunista.
 
O Primatas, que ainda não havia entrado efetivamente em quadra, demorou a acordar. Nesse ínterim, o Futsamba efetivava uma grande quantidade de desarmes e parecia confirmar seu leve favoritismo. De volta, Zé parecia bem à vontade. Quando Lokão, cheio de espaço, martelou as traves de Foguinho, o camisa 10 arriscou uma bicicleta quase antológica.
 
A essa altura já era claro que alguma coisa estava errada nos símios. Mas a postura mudou e o espírito Libertadores voltou a embalar o time. A marcação começou a pesar, ainda que isso não significasse a criação de jogadas efetivas de gol. Cabeça arriscou um chute pífio, mas o primeiro a gol do alvirrubro. Tom saiu defronte a Gago e optou pelo passe para o vácuo.
 
Só que o espaço do Sambão diminuiu e o futebol fluído deu lugar ao chutão. De uma das ocasiões onde a bola foi devolvida á toa saiu o escanteio que, cobrado, encontrou os pés de Gama. Forte, a bola tinha passado direto por todos os presentes na confusão diante do gol, mas não de Marcelo Gama, irremediavelmente livre. Não deu outra: chute cruzado e 1 x 1!
 
A resposta do Futsamba veio com a entrada de Feijão, que fez Foguinho se esticar para evitar a volta da vantagem. Thesko, batendo falta, também levou perigo, mas o efeito do chute levou a pelota para fora. O primeiro tempo terminava sem nenhum sinal de definição.
 
Na volta do intervalo foi a vez do Primatas tomar as rédeas do jogo; as arquibancadas, por sua vez, começavam a lotar. Marcelo Gama, batendo falta, parou em Gago. Litho, de fora da área, obrigou o goleiro a conceder escanteio. Quando Gama, Litho e companhia partiram em um 4 x 2 promissor, foi Juvena – um dos destaques da partida – quem acabou com a jogada. Do lado primata, Antoniazzi fazia as vezes de xerife.
 
Mas o mesmo movimento pendular do primeiro tempo se repetiu no segundo, e a pressão inicial exercida pelo Primatas não durou muito tempo. O Futsamba começou a cair pelos espaços e Torcas, após roubada de bola e mesmo sofrendo puxões do rival, quase acertou o ângulo de Fogo.
 
Quando a defesa primata afastou a bola temerariamente, entregando-a nos pés de Zé, coube a Foguinho evitar o pior. Zé seguiu levando perigo pela direita enquanto Juvena combatia Marcelo Gama. Em lance do camisa 10, o Futsamba teve falta perigosa, mas a cobrança de Pagode foi ruim. Pouco depois, Zé foi amarelado ao brecar saída rápida de Rodriguinho.
 
O Primatas não estava morto, mas chegava pouco. Litho teve boa chance ao receber bolão de Tom, mas o drible que tentou dar em Gago não rolou. Na retaguarda, uma chegada mais forte em Torcas gerou o primeiro foco de CENAS, mas foram colocados panos quentes. Com o final se aproximando, Mathe resolveu testar o coração de Gui Fenômeno e entregou a paçoca para Rennan, que, sem acreditar, não dominou.
 
Mas os dois últimos minutos foram marcados por duas chances de definição positiva para os símios. Marcelo Gama fez jogada de velocidade e parou em Gago, enquanto Tom viu sua tentativa passar muito rente da meta sambista. Não tinha jeito: a prorrogação estava a caminho.
 
O bom e velho gol de ouro levou as duas equipes a entrarem em quadra bem comedidas, após uma breve parada para respiro. A ousadia inicial partiu de Torcas, pejorativamente chamado de Justin Bieber do Chuteira na geral. Comparação injusta, pois Justin Bieber não seria capaz de desarmar Marcelo Gama sem falta antes de tirar um fino da trave.
 
Gama tratou de fazer melhor no lance seguinte, mirando justamente o ângulo, seu espaço preferido de toda a quadra. Só que Gago foi buscar, efetuando grande defesa. No escanteio, Gama desferiu uma verdadeira bomba de prima, mas a bola subiu demais. O Primatas seguiu com mais volume e rifar a bola voltou a ser palavra de ordem no Futsamba. Quase deu certo quando ela caiu nos pés de Pelédson, que bateu firme, para defesa de Foguinho. Ates que ele chegasse para empurrar para o gol e mudar todo o destino do Chuteira, a zaga abafou.
 
O árbitro encerrou a prorrogação justamente no momento em que Litho e Marcelo Gama partiam em um dois contra um animador. Houve reclamações: estranho seria se não. Era o destino: a vaga seria definida nos pênaltis. O gol da quadra 5 escolhido para as cobranças foi o que dá acesso ao estacionamento, para sorte de Tieppo.
 
As equipes se perfilaram em faixas opostas do campo e sortearam na moeda quem bateria primeiro. Marcelo Gama foi para a primeira cobrança, representando o Primatas. Ele deslocou o goleiro. Gol. Foi a vez do craque do Futsamba, Zé. Foguinho acertou o lado e quase tocou na bola, mas não teve jeito. Caixa e 1 x 1. Gago também acertou o canto em cobrança de Antoniazzi, mas não chegou tão perto de defender. 2 x 1 aos símios. Juvena arriscou e bateu forte, bem no centro do gol, mas Foguinho caiu para a esquerda e tudo voltou a estar igual.
 
Mesmo debaixo de pressão, Tom foi bem demais e calmo ao extremo, convertendo a terceira do Primatas. 3 x 2. Toda a responsabilidade ficou nos pés de Torcas, a sensação do campeonato. Alguns se perguntavam se a um jovem de 17 anos cabia tamanho peso. Por que os mais experientes não se apresentaram para bater? O camisa 17 foi para a bola decidido e não pareceu se intimidar diante de catimba de Foguinho. Mas o goleiro foi gigante, acertou o lado direito e espalmou a redonda, que ainda bateu no travessão. A loucura símia estava liberada.
 
Baluarte da insanidade primata, Tieppo tirou uma desforra com a torcida rival e quase deflagrou as famosas cenas lamentabilíssimas. Mas isso é conversa para os tribunais, e não para os registros e reportagens. O que nos interessa é que, dia 5, Primatas e Inflação farão uma semifinal indiscutivelmente inesperada, mas sem dúvidas merecida. Teremos um finalista inédito no Chuteira de Ouro, e, quem sabe, também um campeão inédito.
 
Ficha técnica
 
Primatas 1 (3) x (2) 1 Futsamba – Quartas de final do XX Chuteira de Ouro
 
Gols: Marcelo Gama (P); Zé (F)
 
Cartões amarelo: Estágio (P); Zé e Vô (F)
 
MVPs: 1 - Juvena (Futsamba); 2 - Marcelo Gama (Primatas); 3 - Zé (Futsamba)