É revanche. O momento que o Vingadores esperava chegou. A hora de devolver a derrota na final da Aço passada. Vai começar a vingança, a guerra!
 
Antes, porém, a bola. Que impasse! Com qual será? Gui Fenômeno queria a laranja. Até que a pendenga fosse resolvida o clima era amistoso. Iglesias e Tom trocaram afagos no meio, Fenômeno também chegou para um lero e finalmente a bola rolou.
 
Litho deu partida pelo meio. Antes que pudesse armar a jogada, contudo, Well roubou a bola e tocou para Thigana soltar a bomba de fora da área. O tiro subiu e passou próximo ao travessão. Se precisasse, Foguinho estava lá. Peru? Não, quase certo que não. Em seguida, Well apareceu em boa condição na esquerda. Ao lado dele, Thigana pediu – mas Well bateu cruzado. Foguinho espalmou.
 
Ficou com Litho, então, que tocou para Marcelo Gama no meio. Well o parou e o juizão marcou falta. E sacou o amarelo.
 
- Mas já?  – contestou.
 
- Você entrou com o pé alto – justificou o árbitro.
 
Jogada ensaiada: Litho abriu pela direita, M. Júnior rolou no meio e Marcelo Gama bateu prensado na zaga. Gesticulou:
 
- Era cruzado, cruzado – bateu uma mão na outra.
 
Do outro lado, um PM acompanhava o jogo atento.
 
- Ué, não era para estar trabalhando?  – indagou um torcedor.


Viu M. Júnior tocar para Tieppo no meio, que lançou Marcelo Gama na lateral esquerda. O craque bateu de primeira e parou na lateral. Levou a mão ao queixo e viu os companheiros correndo em sua direção. A rede balançava, Tieppo vibrava com Gus na grade e a torcida gritava: Goooooolaço do Primatas: 1 a 0.
 
Não parou por aí. Gama a conduzia, do meio para frente. Deixou de calcanhar para a batida mascada de Tom. A bola respingou na área e Tieppo desviou de cabeça por cima do travessão.
 
- Se não tocar a bola não dá – resmungou Iglesias olhando para o técnico.
 
- Conversa lá, conversa lá – respondeu Raphael Dias.
 
Não adiantou muito. Tom trouxe da defesa e tocou na esquerda para Rafinha cruzar na área. Marcelo Gama subiu e meteu a testa nela. No canto direito é gooooooooooooooooooool! É do Primatas: 2 a 0.
 
Eles queriam mais. Litho cruzou na área – que passe! Gama foi lá no terceiro andar e cabeceou, mas dessa vez um vingador o acompanhou. A bexiga quicou e Gama bateu como deu. Ela quicou novamente e saiu à esquerda, próxima a trave. Uhhhhh!
 
Uma torcedora vingadora deu a letra:
 
- É só um cara que está acabando com o jogo. Basta marcá-lo e pronto.
 
Era Gama. E ele realmente estava acabando com o jogo. Mas não só. O Vingadores não armava jogadas porque não conseguia reter a bola. Raphael Dias pediu tempo. Discutiu com Ulisses. Iglesias não entendia. Carlão tentava cortar o clima do banco:
 
- É com esta energia que vocês querem vencer?
 
Dias pediu para Ulisses parar a fera:
 
- Não deixa ele jogar. Não deixa ele jogar – enfatizou.
 
Em vão. Gama driblou um vingador, entrou na área como quis e Guerra saiu. Adiantou demais e tentou de calcanhar.
 
- C*! O cara tá brincando! – soltou um torcedor.
 
Acabou a brincadeira. O Vingadores acordou. D´Orazio pôs a bola no chão e foi pra cima. Thigana apareceu pra ajudar e já deixou com Alemão na direita. Marcelinho o parou com falta. Gus não gostou e chiou atrás da grade. Pediu vermelho na falta de Thigana em Tieppo no lance anterior. O árbitro aplicou o amarelo, mas ele não se contentou:
 
- Na maldade, professor!
 
Gui Fenômeno pôs um pouco mais de pressão:
 
- O número 18 (D´Orazio) tá sem caneleira – assinalou ao juiz.
 
O botijão conferiu e ele estava mesmo.
 
- Aí você quer me f*! – brincou, sacando o amarelo do bolso.
 
O segundo período começou com o Vingadores mais atento, procurando o jogo. Carlão entrou e deu gás ao time. No primeiro lance, pôs fogo na partida. Tabelou com Iglesias no meio e soltou a bomba de fora da área. Alta, no centro do gol. A rede balançou. Éééééééééééééééé do Vingadores. Carlão!!!
 
Vamo que vamo! O homem de ferro roubou a bola no meio, trouxe para a esquerda e bateu de longe. Segundo dele? Não, foi prensado pela zaga primata. Alemão insistiu, mas Rick o impediu. Thigana a recuperou novamente, mas logo em seguida sofreu falta de Marcelinho. A torcida primata disse que foi na bola. A do Vingadores não entendia por que Carlão não entrou antes.
 
- Bate cruzado, Iglesias – gritou.
 
Na barreira. M. Junior ficou com ela. Tocou para Gama na direita. Carlão roubou por trás. O juiz pedia para o técnico do Vingadores permanecer no canto dele.
 
- Mais pra trás – assinalou com as mãos – Quebra esta pra mim!
 
Dias mostrou o polegar. Thigana tentou a jogada; nada legal. Feco o interpelou e soltou o berro: “Aqui é Primatas!” Tom puxou o contra-ataque com Gama no meio. O atacante cortou para a direita e bateu. A zaga afastou, mas M. Júnior, na sobra pela esquerda, bateu cruzado de primeira e foi para o abraço. Gooooooooooooooooooooooooooooool do Primatas: 3 a 1.
 
Na comemoração, correu em direção à grade e encarou a torcida rival. Gama o abraçou, puxou a cabeça da fera próxima a sua – distância de 13cm de um beiço para outro – e lhe disse ao pé do ouvido: “Não fala nada. Não fala nada.”
 
Tieppo se preparava para entrar e soltou:
 
- Marca aí: O número 14 vai entrar e vai marcar um gol. Pode marcar!
 
A torcida tirava um sarro:
 
- Ô, professor! Algum problema com esta armadura aí? Tá um cai-cai danado!
 
Foguinho orientava o time. Iglesias perguntava quanto tempo restava. Gus, mais quieto, só observava. Dias acreditava:
 
- Vamos, vamos!  – bateu palmas.
 
O Vingadores sentiu o terceiro gol. O bom momento do início da segunda etapa passou. O time voltou a errar passes, na medida em que o Primatas retomou o controle do jogo. Aos 17, boa triangulação no ataque. Tieppo recuou no meio para Feco, que lançou Estágio na área. Ulisses o travou por trás, na bola. Tieppo tentou a jogada individual e irritou Gama:
 
- Toca a bola. Toca a bola.
 
Gui Fenômeno o apoiou:
 
- Não vou te tirar. Não vou te tirar.
 
Ele teve a chance de cumprir a promessa. Foi quando M. Júnior tocou na esquerda para Litho cruzar na medida. Tieppo chutou fraco nas mãos de Guerra. Aí foi demais! “Vai pra fora!”
 
Coube, então, a Marcelo Gama resolver a parada. Quem recuperou a bola na defesa foi Reginaldo. Sério? Ele mesmo? O próprio. Mal. Tocou para Litho na lateral esquerda, que driblou um vingador e tocou para a fera no meio. Ele dominou, cortou para a direita e soltou o tiro à meia altura no canto esquerdo. Tá lá dentro! Goooooooooooooooooooooooooooool do Primatas: 4 a 1.
 
- Agora acabou. Acabou – sinalizou com os braços. Agora, acabou!
 
Ele estava certo. Antes disso, porém, o Vingadores tentou diminuir com D´Orazio. O passe foi de Carlão, na esquerda. Não foi de canela! A bola veio rasteira e Foguinho rebateu. A torcida reconheceu e fez um trocadilho com o uniforme rival:
 
- Foguinho, você é o nosso herói!
 
Pronto. Fim de jogo. Fim da saga para os heróis. A primeira temporada na Bronze, contudo,  foi positiva. Uma campanha honrosa. Desbancaram grandes times, como o Cacildis nas quartas, e chegaram com mérito à semifinal. Lutaram. Por isso não há que se lamentar. Sucumbiram ante um Primatas, que justiça seja feita, foi melhor. Gama jogou demais. Acabou com o jogo. E agora, com a classificação selada, já pensa na final.
 
Especial será. Além do motivo óbvio, um acerto de contas. Desde aquela 9ª rodada, quando no “apagar das luzes” o Primatas buscou o empate, o Magnatas quer este jogo. Nas oitavas, após a vitória suada contra o Bacaninha na prorrogação, o desejo verbalizou-se. Palavras de Gui Fenômeno:
 
— Sabatim disse que nos queria na final. Conseguiu.
 
Tieppo era só sorriso. Alegria que incomoda. D´Orazio cobrou mais respeito:
 
- Olha lá. Fica dando risadinha. Parece que nunca jogou bola.
 
Sorridente e confiante. Confiante ou prepotente?
 
- Pode escrever ai que eu, Tieppo, falei, com todas as letras, que “vamos ser campeão”.
 
É esperar para ver.
 
Ficha Técnica
 
Primatas 4 x 1 Vingadores – Semifinal do VIII Chuteira de Bronze
 
Gols: Marcelo Gama (3) e M. Júnior (P); Carlão (V)
 
Cartões amarelo: D´Orazio, Iglesias, Well e Thigana (V)
 
MVPs: 1 – Marcelo Gama (P); 2 – M. Júnior (P); 3 – Carlão (V)