Uma palavrinha com o técnico mais Loco do Chuteira antes da partida:

- É só uma partida de futebol. Nada mais do que isso. O nosso objetivo já alcançamos. Se o título vier, ótimo. Se não, apertaremos a mão de quem conquistá-lo.

Depois de uma semana de descanso, um dos favoritos ao título voltou a campo. O clima antes do duelo era o mesmo de sempre: torcida inflamada, faixa erguida, jogadores motivados e um técnico muito Loco. Porém, o Kansado não contava com um adversário que jogou como ele nos seus melhores dias. O Real segurou o ímpeto inicial do favorito e construiu o resultado na medida em que controlava o jogo. Na segunda etapa, sobrou. Jogou muito. Rafa Ornelas foi decisivo outra vez. Zaron e Cesão também comeram a bola. O time mostrou entrosamento e vontade ímpares. Por isso, o placar elástico – 5 x 0 – faz jus à atuação da equipe do técnico Wagner Neto.


A partida começou no melhor estilo Kansado. Toque de bola envolvente e controle do meio campo. Naka se movimentando no ataque, Rod dando segurança na defesa e Vitinho acertando bons chutes de fora da área. Em um deles, o capitão carimbou a trave. O recado foi dado.

O Real ficava menos tempo com a bola, mas nem por isso deixou de levar perigo. Cesão cobrou escanteio na cabeça de Zé, que testou no chão e acordou o arqueiro chavoso. Caio acertou um tiro cruzado do meio. A bola explodiu no travessão. No rebote, Zé cabeceou baixo e Daniel ficou com ela. Nesta altura, o time azul equilibrara as ações e jogava de igual pra igual contra o invicto.

Assanhados, Viana e Rike queriam jogo. A troca de passes foi bonita. A berinjela chegou para Vitinho cruzar para Tai, que finalizou baixo. João fez boa defesa e seguiu jogando com Cesão. Da defesa, o capitão tocou para Gus no meio, que deixou com Zé chutar baixo. Daniel defendeu.

Rapha Kfouri dividiu com Zé na lateral. Melhor para o smurf, que tocou para Caio Rocha cruzar na linha de fundo. Atento, o arqueiro do Kansado segurou. Zaron também pôs Daniel, arqueiro kansado, para trabalhar. Da esquerda, chutou baixo. Ele encaixou.

A defesa azul falhou. Olha o perigo! Tai tocou para Vitinho, de cara com o gol, perder boa oportunidade. O capitão geralmente não desperdiça gols assim.

E quem não faz... Bruninho rolou para Cesão no meio chutar rasteiro no canto esquerdo. Gol do Real! Madruga: 1 a 0.

Novo ataque azul, falta em Bruninho.

- É aula de teatro agora? - ironizou Luongo no banco.

O árbitro não levou na esportiva e sacou o amarelo no goleiro reserva.

- Mal voltou já quer arrumar confusão, arqueiro?

Caique avançou pela direita e bateu colocado à meia altura. Daniel fez a ponte e ficou com ela. Linda defesa!
O Kansado não conseguia impor o seu ritmo de jogo e dependia de jogadas isoladas, como a de Rike aos 23 minutos. Na esquerda, o atacante se livrou da marcação e, quando se preparava para o arremate, a defesa azul cortou o perigo.

- Porra, que merda! - lamentou.

Miranda e Rod se estranharam na lateral direita da defesa branca. Estava saindo faísca!

Loco já coçava a cabeça e preparava a oratória do intervalo quando o cenário ficou ainda pior. Rafa Ornelas viu Daniel adiantado e da intermediária fez um golaço. O toque sutil encobriu o arqueiro. A bola morreu no canto esquerdo. Real: 2 a 0.

Rapha Linguiça levantou o ânimo da equipe:

- Vamos jogar, caralho!

Os times voltaram com ainda mais vontade do intervalo e as faltas foram recorrentes. Ornelas dividiu com Kfouri e o jogador branco caiu. Falta. Na sequência, o meia recebeu na direita, avançou até a linha de fundo e, quando ia cruzar, Caique deu um carrinho para parar a jogada. Vitinho e Barros trombaram no meio. Jogo pegado. Bom. Muito bom! Dois varões disputando a donzela. Dois galos querendo impressionar a galinha. Dois cabritos fugindo do abate. Linguiça tocou para Vitinho na lateral direita. O capitão tentou dar sequência na jogada com um toque de calcanhar, mas acabou armando o contra-ataque azul. Zé pedalou, mas parou na defesa branca.

Pedrinho tentou se livrar da marcação no meio e recebeu a falta. Caio cobrou na barreira e ganhou o escanteio. A zaga afastou, mas o Real logo recuperou a bola. Não fez muita coisa, é verdade, mas Naka tampouco. Neste caso, quem se deu bem foi Pedrinho, que ficou livre no meio. Cansado, o beque foi alcançado por Rod que o travou antes que o pepino fosse descascado. Foi ao chão e o juiz assinalou a falta. Muita reclamação no banco azul.

O Real também tem brucutus. Cesão ganhou dividida na defesa e vibrou muito.

- Ahhhhhhhhhh!

- Tá difícil, né, Viana? Chuta daí mesmo!

Powwwwwwww. A pancada da esquerda fez Tommy Lee Jones sorrir. Mas quem vibrou mesmo foi João, que segurou a bronca.

- Porra, caralho - vibrou Ornelas atrás da grade.

 Vitinho e Rike não desistiram. Encaixaram os toques, mas penetrar no ferrolho azul estava difícil. Sobretudo com o Mr. Black do Vilhena bufando na zaga.

Linguiça trombou em Miranda e pôs ordem na casa. Vilhena arriscou de longe e Luongo (finalmente hein, garoto!) defendeu em dois tempos.

O retorno do quindim de Petrópolis não foi dos melhores. Gus tocou para Caique na esquerda, que deixou com o artilheiro. Rafa Ornelas recebeu na esquerda, girou e chutou de canhota. 3 a 0.

Pane no Kansado. Aquele toque de bola refinado sumiu. Pela primeira vez na partida, o time sentiu que a maré estava preta, ou melhor, azul. Cardoso roubou a bola na defesa e armou o contra-ataque com Bruninho, que rapidamente tocou para Vilhena.

- Vai marcar?

Só se passar por Linguiça, tarefa árdua pra quem tem juízo. Não deu outra.

Rike entrou pelo meio na defesa azul, mas perdeu a bola. Bruninho ficou com ela até Vitinho derrubá-lo. Amarelo no capitão Kansado.

- Chama o fisioterapeuta.

Bruninho saiu de campo agonizando e não viu o show do seu time nos minutos finais. Barros tocou para Zé, que viu Zaron livre no ataque. O “Trinta Minutos na Pororoca” chutou cruzado da direita e guardou. Real foi ao delírio. Golaço. 4 a 0.

Que zebra! Ganhar do Kansado é difícil. Golear, então? Porra! Os transeuntes incrédulos punham as mãos na cabeça.

- Meu Deus, o que está acontecendo?

Para selar a classificação em grande estilo, o quinto. Vilhena ganhou dividida com Naka e tocou para Zé na esquerda soltar um tiro no ângulo esquerdo. Golaço: 5 a 0. Fim de jogo. Madruga classificado. Torcida chavosa calada. Jogadores do Real se abraçaram no gramado. O que se passou na quadra 10 do PlayBall será lembrado como uma das maiores zebras da história do Chuteira de Bronze. Sobre o resultado memorável, Zaron disse eufórico:

- Nosso time não é muito conhecido, mas somos fortes.

Quanto a isso não resta dúvida. Indagado se o time havia feito a melhor partida no campeonato, Zé cuspiu na modéstia:

- Terceira melhor. Ainda tem a semi e a final.
   
Cabisbaixo, Loco reforçou o pensamento do início da partida e reconheceu a superioridade do adversário.

- Eles foram melhores - resumiu.

Classificado antecipadamente para a Prata, o Kansado se despediu da Bronze de forma surpreendente, quase decepcionante. O time perdeu quando não podia. Pagou caro. No entanto, a derrota não apaga o brilho de uma campanha até então impecável. Certamente retomará o bom futebol e tem tudo para ser um dos grandes na Prata. O Real Madruga tenta a final e a Prata contra outra zebra, o Cachorro Velho.
                                                 
Ficha Técnica

Real Madruga 5 x 0 Kansado – Quartas de final do VII Chuteira de Bronze

Gols: Cesão, Rafa Ornelas (2), Zaron e Zé (RM)

Cartões amarelo: Vilhena (RM); Luongo, Rapha Linguiça, Rapha Kfouri e Vitinho (K)

MVPs: 1 – Rafa Ornelas (RM), 2 – Zaron (RM), 3 – Cesão (RM)