Os burburinhos vindos da arquibancada ainda se referiam ao episódio ao final da premiação da Série Bronze, mas foi o árbitro apitar para o futebol atrair a atenção dos exaltados e desguarnecidos. Antes disso, porém, teve a reza do Lodetti – o pai-nosso acelerado – e Vadão no centro do campo passando as coordenadas que, sabe-se lá, levariam o Roleta à providência do altar.
 
O grito de guerra do Lodetti reforçou uma vez mais o espírito coletivista dos mosqueteiros. Já o cartaz pendurado atrás do gol de Caio expunha o desafio corajoso pelo qual o Roleta estava disposto a superar, o mesmo que levou o alvinegro do parque São Jorge ao topo das Américas: contra tudo e contra todos. Dito foi que a aventura se revelou menos audaciosa e o Roleta não precisou superar ninguém além do próprio Lodetti, o que de forma alguma simplificou a tarefa. 
 

Era chegada a hora. O momento pelo qual alguns ansiavam, já que outros a ignoraram por completo. Perderam com isso o deleite de testemunhar a final da 12ª edição do Chuteira de Prata, que ficará por um período estimável de tempo na memória dos homens fieis e nos anais do certame escrito por eles mesmos.
 
Negão pediu para Toretta subir e, na área, ele cabeceou. Caio segurou. Na reposição, Iuri saiu com ela e tocou no meio para Douglão abrir com Thomas na direita, que chutou rasteiro no cantinho. Allyson espalmou.

Lodetti: vice-campeão do XII Chuteira de Prata

Lá se foram três minutos em que os times se alternaram com a bola, mas sem criar jogadas ofensivas. Até que Rahal arriscou de longe e Caio achou por bem não correr risco – deu um tapa nela por cima do travessão. O escanteio não deu em nada e, no contra-ataque, Kuminha tocou para Pina mandar de bico, na saída de Allyson, para rede. Gol do Roleta: 1 x 0.
 
Já no lance seguinte, o Lodetti teve boa chance de empatar na bola parada. A falta havia sido marcada na intermediária rival. Toretta cobrou rasteiro no canto esquerdo e Caio espalmou pra escanteio.

Pina marcou o primeiro do Roleta e deu uma de homem-aranha com a galera

Jogo aberto: os times trabalhavam bem a bola e chegavam ao ataque, mas as defesas também agiam. “Paciência, paciência” – gritava o banco do Lodetti, pedido reforçado por Negão. Dentro de campo, o Lodetti não demonstrava nervosismo – jogava como de costume. Bettoni e Preto tocavam na defesa. Paolo e Toretta se movimentavam no ataque. Só faltava ela chegar redonda para o arremate. Bettoni arriscou de longe – tranquilo para Caio. Em outra cobrança de bola parada, Bettoni isolou.
 
Blitz do Lodetti! Paolo tocou na esquerda para Rahal chutar. Caio espalmou e, no rebote, ele bateu em cima do arqueiro. A zaga afastou, mas o Lodetti logo retomou. Na direita, Toretta mandou um balaço e Caio, outra vez, salvou. Ótima partida do goleira do Roleta.
 
Preto queria jogar. Luis Gustavo entrou e já assustou. Dih tocou para Paolo cruzar na área, de onde Luis Gustavo bateu de prima e Caio espalmou pra escanteio.

Lodetti atacou mais e criou diversas chances, mas maioria delas parou nas belas defesas de Caio Moraes

Só dava Lodetti! Paolo chutou rasteiro da intermediária e Caio encaixou. Em seguida, Toretta bateu à meia altura no cantinho esquerdo – Caio saltou e fez linda defesa!
 
Vadão pediu tempo.
 
– Calma, vai sair!  – previu Negão.
 
Na volta da parada, o Roleta Russa reagiu. Richard tocou para Thomas, que pedalou e bateu colocado – só que ela subiu demais. O mesmo Thomas roubou na defesa, driblou um leão e avançou pela direita. Douglão apareceu no meio e rolou para Catatau concluir sem jeito.
 
O contra-ataque do Lodetti foi parado na entrada da área. Falta. Preto ajeitou. Caio armou a barreira. Preto cobrou rasteiro, no cantinho direito. Dessa vez, Caio nada pôde fazer. Bola na rede. Era o empate do Lodetti: 1 x 1.
 
Vadão reclamava de falta na jogada anterior, que o professor deu vantagem. “O meu jogador teve que saltar para não ser atingido”, pressionava.

Roleta jogou recuado e partiu no contra-ataque: partida perfeita do início ao fim da garotada

O Roleta reagiu bem ao gol e no final do primeiro tempo voltou a marcar. Kuminha perdeu a bola no ataque, mas foi atrás brigar por ela. Carioca errou pra afastar e o camisa 10 ficou com ela. Ele invadiu a área, deixou Bettoni no chão e mandou à meia altura na saída de Allyson para pôr o Roleta Russa na frente novamente: 2 x 1.
 
Na volta do intervalo, o susto. Iuri cochilou e Toretta ficou com ela. Já quase cara a cara com Caio, a defesa impediu o arremate. E logo em seguida ele teve outra chance: chutou cruzado e Caio desviou. O banco do Lodetti se perguntava o que fazer para expurgar a falta de sorte ou, quem sabe, o problema não fosse o azar. Neste caso, a questão era como superar um goleiro inspirado. Na rápida reposição, Luis Costa cruzou para Douglão na área, mas Bettoni – que vinha por trás – roubou e puxou o contra-ataque mortal. Toretta e Carioca tabelaram, Bettoni recebeu, limpou um marcador e bateu forte no centro do gol para deixar tudo igual. Gol do Lodetti! 2 x 2!
 
Contra o ímpeto do Lodetti, que parecia estar melhor na partida, o Roleta voltou a surpreender. Luis Costa devolveu cobrança de escanteio para Kuminha, que invadiu a área e bateu prensado pela zaga branca. O desvio enganou Allyson e ela entrou fraquinha no canto direito. Gol do Roleta! 3 x 2.
 

Destaques do Roleta: o zagueiro/capitão/artilheiro, o MVG e o MVP

Pela terceira vez no jogo, o time de Vadão estava à frente no placar – e agora jogava com o tempo para administrar o resultado. O Lodetti, como era de se esperar, reagiu de bate-pronto. Dih ligou o ataque com Paolo, que bateu mascado pela zaga. Guga mandou da direita e Caio fez a defesa para o alto. Uma escorada na bola da defesa e ela sobrou para Toretta, que, sem deixá-la quicar, mandou no centro do gol. Caio fez outra linda defesa. Preto chutou rasteiro de longe – Toretta tentou desviá-la, mas não conseguiu – e Caio ficou com ela.
 
Na gana de ir com tudo para o ataque, o Lodetti se descuidou atrás. Guga tocou errado e Luis Felipe não perdoou. Ele ficou com ela, driblou Allyson e tocou no canto direito para marcar o quarto do Roleta.
 
Negão pediu tempo. Ao contrário da primeira etapa, quando também esteve atrás no placar, agora o time demonstrava certo nervosismo. A diferença era maior e o tempo corria. Entretanto, na volta da parada, o time voltou a acreditar. Guga cruzou na área de lateral, Paolo desviou e a bola foi para Toretta, que de cabeça mandou ao gol, fácil para Caio, que não conseguiu segurar e viu a bola ir entrando devagarinho no gol. Falha , a única, do goleirão que até então fechava o gol. Tá lá dentro! Gol do Lodetti! 4 x 3.
 
Agora era tudo ou nada. Pina sofreu falta na defesa. Douglão chegou junto à mesa pra saber quanto tempo restava. Thomas entrou e Kuba afastava as investidas rivais como dava. Thomas tocou para Pina na intermediária. O capitão driblou um marcador e, na hora da batida, perdeu a bola. André Plec saiu correndo como um trator atrás de Guga. Paolo recebeu na esquerda e chutou cruzado. Toretta aguardava na área para concluir, mas Caio interveio. Negão botou Luis Gustavo em campo. Guga cruzou para ele – que entrava feito um cavalo para completar na área. Porém, Caio chegou antes dele e ficou com ela.
 

Precisando fazer gols, o Lodetti, além do Roleta,  pressionava a arbitragem, pedindo faltas, cartões e até pênalti

O banco do Lodetti pressionava a arbitragem; queria a marcação da penalidade por puxão na área. Kuminha puxou o contra-ataque pela esquerda e foi travado. Jogo tenso. Pina ganhou dividida na defesa e lançou André Plec na esquerda, que deu um totó nela, encobrindo Allyson – só que ela saiu à direita. Depois, foi a vez de Kuminha desperdiçar a chance de matar a fera. Ele bateu rasteiro da intermediária à direita do gol. No contra-ataque, Paolo chutou cruzado da esquerda. Carioca pedia a bola na área. Paolo insistiu na jogada individual. Limpou um marcador e chutou alto no canto direito. Caio defendeu em dois tempos.
 
O Roleta respondeu com Catatau na armação. Luis Felipe pediu e tocou na área para Kuminha ser desarmado na hora “h”. Douglão recuperou a bola em seguida e tocou na esquerda para Luis Costa cruzar para Kuminha, na área, chutar rasteiro no cantinho direito. Allyson espalmou e antes que pudesse fazer qualquer coisa o juiz apitou o fim de jogo.
 
Link, assistente técnico do Lodetti, ainda esbravejou com o juiz por não acrescer mais minutos, mas não teve jeito. Roleta Russa é campeão do XII Chuteira de Prata!
 
Autor de dois gols e MVP da partida, Kuminha atribuiu o sucesso da equipe aos treinamentos e à reformulação do elenco. “Foi um excelente jogo. O time deles é muito bom também. Agora, vamos brigar pela Ouro”, disse emocionado.

Após conquistar a Aço e a Bronze consecutivamente, o Lodetti não consegue fechar o ciclo perfeito. O time, que esteve atrás no placar durante quase toda a partida, lutou, jogou bem, mas parou diante um adversário que explorou os contra-ataques com inteligência e, principalmente, na ótima atuação do arqueiro Caio. O sentimento, garante Carioca, é de frustração porque o foco da equipe era conquistar o título. “O pensamento único era esse. A gente queria subir, claro, mas isso foi consequência do nosso trabalho. Agora, é levantar a cabeça e tentar ser campeão da Ouro porque ano que vem tem mais”, disse com confiança, já cutucando os futuros adversários. “O pessoal da Ouro já estava com medo quando estávamos na Aço. E agora a gente chegou. Chegou, chegou forte e quero ver segurar. Vamos pra cima”, decretou.
 
A próxima temporada da Ouro promete – quiçá, a maior da história. Rivalidades antigas, novos episódios – agora no topo. Lodetti, Futsamba, Kansado, Bengalas, CAV, Arouca, Roleta Russa, Camelo, Bacana, Zenite, Fora de Série, Mulekes e etc. Quem é o melhor, entre os melhores?
 
 
Ficha Técnica
 
Roleta Russa Olímpico 4 x 3 Lodetti – Final do XII Chuteira de Prata
 
Gols: Pina, Luis Costa e Kuminha (2) (RRO); Preto, Bettoni e Toretta (L)
 
MVPs: 1 - Kuminha (RR Olímpico); 2 - Pina (RR Olímpico); 3 - Toretta (L)


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