Parece roteiro de cinema, mas é realidade: 18 meses depois de uma cisão que dividiu em dois um dos times mais poderosos do Chuteira, o destino coloca ambos frente a frente, em uma decisão valendo taça. É o que vai acontecer na final da Prata, no sábado, quando Nois Que Soma e Mercenários entrarão em quadra para resolverem suas diferenças na bola, naquele que talvez seja o jogo mais aguardado do ano.
 
Antes do encontro, o Nois Que Soma foi obrigado a galgar degrau por degrau até a divisão mais alta do torneio. O último, superado na semana passada, foi o TáLigado, com Paulinho chamando a responsa e marcando um hat-trick.
 
Antes que a bola rolasse, Tosi alegou que os uniformes azuis escuro de seu time se confundiriam com o negro do rival: o juiz riu, a bola rolou e o Nois Que Soma foi para cima. De cabeça, completando cruzamento perfeito de Felipinho, Paulinho quase abriu o placar antes que a zaga ligada despertasse; Fábio fez boa defesa. O NQS começava com fome de gol.

Essa fome aumentou quando Paulinho tentou enfiada para o companheiro e a bola, tocada com muita força, saiu pela linha de fundo. Da lateral da quadra, o técnico Deko, do TáLigado, ironizou: “belo passe”. Cara... que péssima ideia! Paulinho ficou visivelmente furioso, mas ouviu os companheiros, que pediram para que a resposta viesse na bola.
 
E ela veio, com a ajuda de Luiz Fernando – que por pouco não marcara em cobrança de falta segundos antes, parando em Fábio –, recebendo de costas e fazendo pivô corretamente para o camisa 94 bater, cheio de raiva. “Não fala comigo!”, bradou o mordido artilheiro, descontando a provocação em plenos pulmões. Paulinho levou amarelo e por pouco não tomou outro, que o deixaria fora da grande final.
   
O gol não foi suficiente para que o TáLigado despertasse, e a vida do NQS continuou fácil. Batendo de longe e sem muita pretensão, Paolo acertou o travessão de Fábio, assustando. Luiz Fernando, ao receber de Neres, buscou o ângulo e quase aumentou. O time celeste só deu uma leve melhorada quando Foroni veio para a quadra, ajudando a movimentação; a primeira chance real do time veio com Luquinhas.
 
Mas a superioridade do NQS seguia gritante. Após linda tabela com Gleissinho dentro da área, Neres bateu e enganou todo mundo, inclusive a própria torcida, que comemorou gol – a bola tinha ido para fora. A liberdade do time era tamanha que até Paolo, que costuma cuidar da retaguarda, circulava com liberdade na área rival.
 
Quando Paulinho arranjou passaço para Neres, esse driblou o goleiro e tentou o chute, mas ficou no quase novamente; Leandrinho apareceu como um raio para dar o toco e afastar. Enquanto isso, as faltas das duas equipes aumentavam e o shoot out aparecia como risco. A sexta do TáLigado foi cometida por Foroni, no campo de ataque. Paulinho foi bater o tiro direto, mas Fábio conseguiu desviar. Caprichosa, a bola saiu pelo mesmo centímetro quadrado – colada à trave direita – que havia passado nas tentativas anteriores de Neres.
 
Pouco depois, foi a vez do TáLigado ter a chance de bater um shoot out e chegar a um empate inesperado. Luquinhas foi para a bola, mas avançou devagar demais! Deu tempo de Uber e Paolo se recuperarem e pressionarem o camisa 10, que se enrolou e facilitou a vida de Tinho. Ele ainda pediu falta de ataque de Luquinhas, mas a dupla do apito não deu ouvidos.
 
A chuva deu o ar de sua graça antes do intervalo, mas o gol de Neres não: no último lance do tempo, o camisa 23 recebeu dentro da área e tentou encobrir o goleirão (ou tocar para Felipinho?), desperdiçando nova chance. O camisa 23 fazia bom jogo e se movimentava muito, mas estava sem sorte.
 
A relativa tranquilidade do NQS no primeiro tempo acabou assim que o segundo começou. Isso porque, no minuto 2, Guiba recebeu de costas, se livrou da marcação com um giro e bateu forte, deixando tudo igual. Zezito também mostrava fome de bola e parecia que o TáLigado ia começar a dificultar a vida do aurinegro, mas, por algum motivo, o time recuou. O Nois, que não havia voltado para o segundo tempo até então, teve espaço para jogar seu futebol.
 
Tuco foi um dos que se aproveitaram da brecha: ele fez fila e ia invadir a área pela esquerda, mas levou uma de Foroni. Luiz Fernando foi para a bola, mas rolou para Paulinho, postado a cinco metros da bola. Esperto, o camisa 94 bateu forte, mesmo com o tumulto que dificultava sua visão. Deu certo: gol! Era o segundo, NQS na frente mais uma vez.
 
O TáLigado pediu tempo para tentar o empate, mas a conversa não ajudou muito. O Nois voltou com a mesma fome e Paolo só não fez o terceiro porque Fábio apareceu mais uma vez para defender. Já no lance seguinte não teve jeito: Tuco fez boa jogada e mandou para a área, onde Paulinho aguardava para completar o seu triplete. Provocá-lo realmente não fora uma boa ideia.
 
Os ligados tentaram reagir com Zezito, mas os espaços eram poucos. A diferença física entre as duas equipes também pesava. Calmo, o Nois Que Soma por pouco não ampliou com Tuco e depois com Felipinho, que batera cruzado. Neres seguia na sua jornada pessoal, agora parando na trave. A final ficava mais próxima a cada segundo.
 
Tal qual a primeira etapa, na segunda ambos times abusaram das infrações. O TáLigado cometeu sua quinta pouco depois do NQS fazer o mesmo. A partida já se encaminhava para o fim quando Uber cometeu falta de ataque sobre Luquinhas: novo tiro direto. Se batido e convertido rápido, o sonho do empate ainda resistiria. Mas Guiba acabou chutando o chão e facilitando a vida de Tinho, que segurou. Não tinha mais jeito: apesar das reclamações dos azuis, que pediam novo tiro livre, era NQS na cabeça!
 
Nois Que Soma, agora finalista do Chuteira de Prata, chega para a decisão como favorito, dada a campanha. O Táligado pensa no time que vai disputar a Ouro após um ano na Prata.

Ficha Técnica

Nois Que Soma 3 x 1 TáLigado – Semifinal do XIV Chuteira de Prata

Gols: Paulinho (3) (NQS); Guiba (TL)

Cartões amarelo: Herick, Markinellas e Paulinho (NQS); Arroyo, Guiba e Leandrinho (TL)

MVPs: 1 – Paulinho (Nois Que Soma); 2 – Luiz Fernando (Nois Que Soma); 3 – Neres (Nois Que Soma)