Chegou a hora de menino virar homem. Como é que é, Fora? Vamos voltar a jogar bola ou a temporada vai para o saco?
Estava na hora de botar pra quebrar. Acontece que do outro lado tinha o Arouquinha – que também brigava pela mesma poncã. Para se assegurar que o jogo transcorreria dentro das normalidades e teríamos um espetáculo de cavalheiros, onde todos permanecem sentadinhos e usam um linguajar educado para apoiar sua equipe, o professor chamou os capitães no meio. Pôs os pingos nos is e apertou a mão dos atletas. Jogou a moeda para o alto. Deu coroa. Homem que é homem gosta de uma. Mas para o Fora não era um jogo de azar.
Educação é o c*. Falar bonitinho... Vai se f* com esta porra! É decisão e ninguém está aqui de brincadeira. Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.
Arthur saiu jogando errado na defesa.
- Ô, meu amigo! O jogo já começou!
Caniggia, que se recusa a tomar Coca-Cola no canudinho, roubou a bola. Tocou para Masson no meio chutar de fora da área para fora. A redundância foi proposital. O time azul entrou mordido em campo. É como o menino da roça que sonha em ser cabo do exército. No dia em que vai se alistar, acorda com três horas de antecedência, mesmo sabendo que o 23º quartel de Botucatu-SP fica na esquina de casa. Engraxa o sapato, dá bom-dia ao pai, rega as plantas da coroa, carpina o pasto, dá milho às galinhas, faz duas séries de dez flexões e quatro de quinze polichinelos, até, enfim, se apresentar. Diante do subtenente, responde às perguntas monossilabicamente. No final da seleção não é escolhido. No dia seguinte, vai para a zona e esquece tudo. Quatro meses depois, ganha “setenta conto” no jogo do bicho e compra um par de chuteira. O destino já estava traçado.
Gabriel tomou a bola do rival no meio e tocou para Masson na esquerda. O camisa 10 cortou um branquinho e chutou rasteiro no canto esquerdo. A bola beijou a trave e saiu. Uhhhhhhh!
Masson e Quim dividiram no meio de campo. A bola sobrou para Dinho, que tocou na direita para Arthur finalizar. Passou perto.
- Boa, Arthur – apoiou Nelsinho. 1,61cm. Dentinhos de coelho. Cabelo castanho, lisinho. Uma gracinha. Mão no queixo; só mexendo os olhinhos. Pra lá e pra cá.
- Du, Du! – gritou Dacal.
Êpa! Este aí, não. Fera. É melhor não mexer com o homem. Caminhoneiro das antigas. Cabra-doido que só. Soltou o verbo:
- Já fala para o Rezende e o Caniggia que eu não quero falta.
Ok, chefe. Falou tá falado.
Segawa entrou. Caniggia perdeu a bola na zaga e Rezende cobrou:
- Ah, Caniggia!
Gabriel fez falta e resmungou:
- Bota aí que não foi falta.
- Rezende, fala para o Segawa segurar e você vai – deu o recado Dacal.
Caniggia se preparava para cobrar o escanteio quando o juizão, do nada, quis aparecer. Caminhou em direção à fera com olhar pouco amistoso, já com a mão no bolso. Mostrou-lhe o amarelo. Luan levou um na fuça também. Ninguém entendeu porra nenhuma. Ele disse que os jogadores estavam se paquerando.
Masson dividiu com Dinho na lateral e caiu. Rolou de um lado para o outro e se levantou. Jogo que segue!
Jhoni roubou a bola no meio, tocou para Segawa – que rolou para Cabeça finalizar. Mão espalmou para o alto e a bola ficou viva na área. Masson subiu e cabeceou pra rede. Gooool do Fora! Não, espera aí. O juiz ergueu o braço e anulou o tento. Alegou que Masson usou o braço como apoio na subida. Dacal entrou em desespero. Pôs as duas mãos na cabeça, deu uma agachadinha, invadiu o gramado e quase infartou.
O Fora pressionou a arbitragem, mas não teve jeito. Gol anulado.
Rezende travou Pepe na defesa. O “agulha-negra” ficou irado:
- Apita só para um lado nesta porra.
- Vou lá ver quantas faltas já foram – disse Nelsinho.
Jhoni tocou no meio para Rezende e recebeu de volta na linha de fundo. Foi parado com falta. Passou batido e a torcida azul não aguentou:
- Você tá de sacanagem!
- Já anulou um gol. Quero ver o que vai fazer para recompensar – cobrou.
Jhoni driblou um branquinho na direita e cruzou na área, mas ninguém chegou para concluir.
Boa trinagulação no ataque do Arouquinha. Luan tocou para Dinho ajeitar para a conclusão de Pepe. A bola saiu à direita. Coqueiro estava nela. Da defesa, Chico tocou no meio para Dinho, de trivela, deixar Pepe em ótima condição no ataque. A velha guarda santista cortou para esquerda e chutou baixo no cantinho. A bola morreu lá onde a galera gosta. Gooooooool do Arouquinha: 1 a 0.
No final do primeiro tempo, os branquinhos tiveram a chance de ampliar. Shoot out. Não sei como foi o lance que o resultou – a verdade é esta. Pepe rolou e foi pra cima. Coqueiro fechou o ângulo e esperou o craque se decidir. Saiu no pé da vanguarda e evitou o segundo. Vibrou:
- Bora, Fora. Vamos, porra!
O jogo continuou bom no segundo tempo. Gabriel arrancou da defesa, cortou dois arouquinhas e foi parado por Quim no meio. Falta.
- Amarelo, amarelo! – gritou um torcedor.
Porra nenhuma. Nem cartão, nem gol. O Aroquinha recuperou a bola, mas não por muito tempo. Du a retomou na defesa e avançou. Foi parado por trás – por mais estranho que isto possa aparecer – por Renato Magri, que só aceita desaforo no Natal. Falta.
Gabriel tocou para Masson, que buscou a jogada com Cabeça na direita. Não deu. Rezende é chapa grossa. Boi-bumbá que não dá ré. Ganhou pelo alto, na zaga, cortou contra-ataque rival por baixo. Eita, porra! Gabriel também é ponta firme. Parou Chico no ataque, mas se machucou no lance.
- Ai, ai! Meu pé esquerdo. Ai!
Cadê o fisio?
O jogo ficou duro. Aliás, já estava sendo. Mas ficou ainda mais. Haja, vontade!
Cabeça entrou duro em Felipinho. Dinho cobrou:
- Ei, solada, professor! Olha lá. Machucou o menino.
Caniggia perdeu a bola no ataque e Dacal puxou a orelha:
- Vamos, Caniggia.
Orley tabelou com Leozinho no meio, que tocou para Dinho, cara-a-cara com Coqueiro, chutar rasteiro no canto esquerdo e ampliar. Goooooool do Arouquinha: 2 a 0. Dacal pediu tempo. Tempo que agora era inimigo. Gestos que não acabavam mais.
Jhoni arrancou da defesa, driblou um branquinho e tocou na direita para Masson, que rolou para Rezende bater prensado na zaga. Saiu fraquinho. Jhoni fez sinal para sair. Segawa entrou. Mas quem deu conta do recado foi Masson. Du tocou para o japa na direita. Falta. Masson bateu colocado no alto, lá no canto direito. A rede balançou. Goooooool do Fora. Dacal se empolgou. Será que vai dar?
Passou aquele filme. Todo o esforço ao longo da temporada. No fio da navalha. Segawa, japa por ascendência, mameluco por convicção, tocou para Zigo na esquerda. O passe não foi legal e Luan ficou com ela. Zigo insistiu e a retomou. Rolou para Masson chutar forte da entrada da área, no canto esquerdo. Fora. Mais um tempo técnico. Restavam quatro minutos.
Rezende brigava. Jhoni arrancou da defesa. Chamou Zigo no meio. Masson abriu. Mas quem recebeu foi Rezende. A zaga branca, contudo, afastou. Rodrigo Golizia recuperou e tocou para Jhoni no meio, que a perdeu. Voltou para marcar. Pepe tocou na esquerda para Luan arriscar; prensado por Rezende. Coqueiro agarrou.
No último lance do jogo, outra roubada de bola no meio. De Arthur. Passou para Pepe, que tocou para Chico bater de bico, de fora da área. A bola desviou na zaga e enganou Coqueiro, velho de guerra. Gooooooool do Arouquinha: 3 a 1.
Dacal ainda bateu palmas para incentivar o time, mas não havia mais tempo. Fim de jogo. Fim de campeonato para os smurfs, que foram fora de série no início da temporada, mas desandaram no decorrer dela. Agora está fora de alcance. Não há consolo. Cumpre tabela na próxima rodada contra o Basicus, que já está rebaixado. Se o time permanecer unido, tem lenha para queimar.
A vitória, com mérito, classificou o Aroquinha. A próxima rodada só servirá para medir força contra um time com campanha semelhante – o Jeremias – ambos com 15 pontos, apesar de estarem duas posições acima devido qo saldo de gols.
Ficha Técnica
Fora de Série 1 x 3 Arouquinha – 8ª rodada do XVII Chuteira de Ouro
Gols: Masson (FdS); Pepe, Dinho e Chico (AJrs)
Cartões amarelo: Caniggia, Gabriel e Rodrigo Golizia (FdS); Luan (AJrs)
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